Sinto falta da sombra
quente do final da primavera
E das flores que se
deitavam no quintal
Cada uma tão sem igual
Como os olhos que
atravessam as esquinas
Como os lábios que
mentem rotinas
balbuciando felicidades
pré-escritas
Sinto falta dos cantos
dos móveis queimados de bitucas
e da luz da manhã que
vinha das almas que sempre julguei puras
Como a despretensão das
crianças
Como a imaginação das
crianças
Ausência é um copo
quebrado
Tendo sido colado mil
vezes os cacos:
Nunca será igual
E nem mesmo as crianças
tem um coração tão ingênuo quanto antes
Muito menos os jovens carregam
aquela esperança franca e palerma
Ou os idosos carregam
sabedorias das suas vivências cretinas
Todas as lidas estão
tortas
Assim como meu peito
bombeando água
Enquanto bebo sangue e
Calejo os dedos
E culpo a falta de um
bom fim de primavera
Sempre flores dormindo
no chão
Nunca mais luzes da
manhã